Zumbi, destaque da
resistência negra no Quilombo dos Palmares, tornou-se um símbolo para as lutas contra
desigualdades raciais no Brasil e no mundo e assim lembramos o dia da
Consciência Negra no dia 20 de Novembro (ou na semana que antecede o dia 20),
dia em que se marca a sua morte.
Mas esse romantismo tem
um limite e nem sempre o reconhecimento é atribuído às negras e negros que
construíram todo o capital comercial dessa “nação” e contribuíram
significativamente com a cultura desse povo mestiço, as elites políticas e
alguns segmentos da sociedade comentem a intolerância religiosa contra povos
negros e os reservam cotas especiais pela incapacidade do Estado de retribuir verdadeiramente às
contribuições desse povo guerreiro de pele negra.
Justamente essa pele de
cor escura, ocasionada pela maior quantidade de melanina no pigmento da pele é
o que separa na cabeça de alguns/as pessoas os negros dos não negros e isso
tomou conta do pensamento social e do imaginário dos/as brasileiros/as durante
toda a história de construção desse País. Isso ficou marcado pelo o que
conhecemos hoje por PRECONCEITO RACIAL.
Essa diferença de pele
é incorporada às desigualdades sociais, onde os europeus traziam os negros e
negras forçadamente e os escravizavam para realizarem trabalhos na nova Terra aonde
veio a ser hoje o Brasil, essa terra maravilhosa dos desenganos.
Passado todo o tempo de
exploração do trabalho escravo, cria-se mercados consumidores e libertam os
escravos para se tornarem parte de tal, mas como não tinham como consumir o que
lhes restam é atuar como mão de obra barata, ou seja, mudou o nome da
escravidão.
A intolerância
religiosa persegue os terreiros, castiga e os excluem das atividades sociais.
Deve ser porque é feio ver pessoas dançando, cantando e comendo, pois é assim
que se enxerga muito por alto o acontecimento da maioria dos rituais africanos
que são religiões pautadas pelas divindades e diversidades naturais e essa
exclusão passa para os indivíduos participantes das religiões africanas ou
afro-brasileiras, principalmente pelo determinismo católico existente nas
instituições públicas brasileiras. Por algum acaso você sabe por que tem um
crucifixo nas paredes da maioria das instituições públicas desse país? Serão
templos católicos todos esses espaços? Nas escolas se ensina descaradamente o
catolicismo. Nossos feriados são pautados pelo calendário católico. E, além
disso, ainda vem o Papa dizer o que o Brasil tem que fazer. Pelo menos nisso
Lula interviu razoavelmente bem.
As cotas reservadas em
diversos segmentos para negros/as são feitas como formas de compensação sobre
as desigualdades históricas empreendidas sobre o povo negro e pobre no Brasil. Esse
mecanismo transfere a responsabilidade da desigualdade para a cota salvadora e se
torna apenas uma forma de esconder a sujeira atrás da porta, ou seja, não
resolve o problema, é apenas uma forma paliativa do Estado compensar as
desigualdades históricas, mas não faz com que a realidade mude. Parece sempre
girar em círculos, gerando um conformismo da realidade, algo meio determinista.
Os guetos que hoje
conhecemos por favelas ou comunidade carente (a TV Bobo adora usar esse termo)
foram formados através da exclusão dos que não tinham patrimônio para morar nos
centros urbanos que se formavam. Sempre houve o lugar da favela, um lugar reservado
longe ou escondido das belas paisagens naturais e centros administrativos e
comerciais. Tudo isso para não misturar o joio com o trigo.
As desordens dentro dos
bairros populares hoje não é resultado de castigo divino nem ação demoníaca
como às vezes tenta se passar nos programas sensacionalistas de televisão e se
estampa nos jornais impressos ou se houve pela manhã nos rádios AM/FM, é fruto
de um planejamento de exclusão social real - como o apartheid na África do Sul,
onde temos outro símbolo negro, o Nelson Mandela- nos guetos de hoje é
encontrada a mazela social que prejudica o desenvolvimento das classes
privilegiadas das Cidades. Essa mazela ou sujeira - como diria Z, Bauman. -, é
jogada ou varrida, sobretudo dentro dos presídios - já diria Foucault- e nas
valas de cemitérios, aos que ainda não tiveram seu destino cumprido resta se
matar aos poucos nas ruas uns aos outros numa guerra interminável e sem sentido
algum. Ou até mesmo se matam sozinhos com o auxílio da cachaça ou da pedra de
crack queimada nas cinzas de um cigarro em um cachimbo de lata ou no mesclado.
É nesse contexto que a
fúria negra se revela na bala da quadrada (pistola) que saiu de um tiro
disparado intencionalmente para tomar seu patrimônio, pois na verdade é isso o
que está em jogo a disputa pelo patrimônio privado individual.
Pensa-se então, como
atingir o nível social exigido pelos comerciais de televisão e pela alta
burguesia para viver nos grandes centros, hoje nos residenciais fechados, trancados
pelo medo da fúria do gueto. O ideal moderno de se viver é consumir, mas
consumir o que está em evidência, o que está na televisão, na novela da Tv
bobo.
Lança-se então o sonho
ideal e cria-se uma classe impropria a consumir esse sonho, e dessa forma a
fúria negra ou fúria do gueto se revela na “calça de veludo ou bunda de fora”, “ou
tudo ou nada”. Não sem antes pedir no subconsciente o perdão da mãe, empunha-se
o revolver e executa a ação para tentar chegar ao sonho vendido na televisão, perdão
aceito ou não a realidade não é romântica e os mecanismos de controle agem para
manter tudo no seu lugar, separa o joio do trigo e varre a sujeira para seu lugar
periférico de origem.
Quanta ironia nessa
negra consciência!
Sempre pra debaixo do tapete pastel.. Lula lah foi um avanço na frente daqueles que nada fizeram, mas muito pouco é pouco demais... Essa tipo de política assistencialista não paga nossa dívida... não com a pele, não com a melanina, mas com nosso próprio passado... Pelo mesmo motivo o país esconde o que se passou durante a ditadura... vergonhoso é e nunca deixou de ser, mas para que se mude é preciso arregaçar as mangas e lutar, lutar pra mudar, assim que se faz... assim que se constrói um país.. educar é dar ao povo brasileiro (não ao tom da pele ou textura do cabelo) aquilo que lhes sempre foi negado: informação e o devido valor ao nosso passado que foi apagado... ao que nos faz samba, carnaval, futebol: nossas identidades!
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